Fotos: Operação Acolhida/Divulgação, Alan Chaves/G1 RR e Rodrigo Sanches/G1
A Venezuela reabriu a fronteira com o Brasil no início da tarde desta sexta-feira (10) após quase três meses — 78 dias. O acesso oficial entre os países foi fechado por ordem do presidente venezuelano Nicolás Maduro em 21 de fevereiro.
“Está aberta a passagem para pessoas a pé e de carro”, informou nesta tarde ao G1 o cônsul venezuelano que atua em Boa Vista, Faustino Torella Ambrosini. Segundo ele, a fronteira foi aberta por volta de 12h (13h de Brasília).
A reabertura também foi confirmada pela Operação Acolhida, que cuida do fluxo migratório em Pacaraima, cidade fronteiriça. Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou ser inteligente da parte do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a decisão de reabrir a fronteira com o Brasil.
O anúncio da reabertura foi feito mais cedo pelo vice-presidente econômico, Tareck El Aissami. Além das fronteiras com o Brasil, também foram abertas as comunicações marítimas e aéreas com a ilha de Aruba.
“O presidente Maduro anuncia à comunidade internacional a reabertura da fronteira terrestre com o Brasil a partir do dia de hoje. Gradualmente, iremos re-estabelecendo os mecanismos de controle fronteiriço para que esta fronteira seja cada vez mais uma fronteira robusta de desenvolvimento econômico produtivo e que beneficie a ambos os povos, a ambas as nações”, anunciou El Aissami na televisão estatal VTV.
Em nota, o governo de Roraima avaliou de forma positiva a reabertura, tendo em vista que serão retomadas comerciais serão retomadas entre os dois países.
O fechamento da fronteira foi uma retaliação à decisão do governo do Brasil de, em cooperação com os EUA, enviar ajuda humanitária ao país a pedido do autoproclamado presidente Juan Guaidó, opositor a Maduro.
Ainda assim, o Brasil tentou enviar a ajuda e ocorreram conflitos na fronteira, entre eles um enfrentamento entre militares venezuelanos e índios pemones na comunidade indígena venezuelana de Kumarapakay, a 70 km da fronteira.
A Provea, ONG de defesa dos direitos humanos, classificou os conflitos como “massacre da Gran Sabana” e diz que eles deixaram ao todo 7 vítimas – incluindo as três mortes no Brasil – sendo quatro índios pemones e mais de 50 feridos.
Fechamento não freou migração
Mesmo com o fechamento da BR-174, as pessoas não pararam de cruzar a fronteira e em média 450 venezuelanos pediam ingresso regular no Brasil por dia, segundo a operação Acolhida, que controla o fluxo de imigrantes.
Para burlar o bloqueio, os venezuelanos atravessavam entre os países pelas chamadas “trochas”, rotas clandestinas em meio à mata, fazendo percursos que poderiam levar até horas. Entre eles até estudantes venezuelanos que moram em Santa Elena mas estudam em Pacaraima.
Durante o período em que a fronteira esteve fechada, empresários e políticos locais tentaram negociar a reabertura. A principal justificativa é que com o bloqueio na BR-174 Roraima estava deixando de exportar R$ 5 milhões por dia.
Em março, o governador do estado Antonio Denarium (PSL), que é aliado ao presidente Jair Bolsonaro, participou de reuniões na fronteira com ministros chavistas e chegou a dizer que a fronteira seria reaberta, o que acabou não acontecendo à época. Em abril, o senador Telmário Mota também foi a Caracas conversar com Maduro para negociar sobre o assunto.
Escalada da crise
No dia 30 de abril, a Venezuela teve novos embates entre o governo de Maduro e o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó.
O opositor afirmou ter apoio das forças militares do país e convocou a população às ruas. Autoridades do governo falaram em tentativa de golpe de Estado. Houve disparo de bombas de gás nas ruas da capital, Caracas, e cinco pessoas morreram, segundo informações da ONU.
Em paralelo, o número de venezuelanos em fuga para o Brasil registrou um pico de 848 pessoas.
Outro opositor, Leopoldo López, libertado de sua prisão domiciliar, se refugiou no edifício do corpo diplomático espanhol.
Dois dias depois, o presidente Nicolás Maduro marchou com militares para mostrar apoio das Forças Armadas. A cúpula militar reafirmou sua adesão a Maduro, e 25 rebeldes pediram asilo na embaixada brasileira, que foi concedido. Na quarta-feira (8), o governo anunciou a expulsão de 56 militares acusados de envolvimento no levante.
Também na quarta, foi preso o vice-presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Edgar Zambrano. O parlamentar, que é aliado de Guaidó, foi preso preventivamente por participação no levante militar, segundo anúncio feito nesta sexta (10) pelo Tribunal Supremo de Justiça do país.